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O uso da Crioimersão para diminuir a dor muscular tardia do atleta

21 de junho de 2017

Após a prática de exercício físico intenso em treinamentos e competições é comum que o atleta apresente desconforto ou dor muscular, que atrapalham o rendimento esportivo. Esta dor é também chamada de dor muscular de origem tardia (DMOT), surge até 24 horas, atinge seu pico entre 24 e 48 e diminui entre cinco e sete dias.

A DMOT acontece devido ao acúmulo de ácido lático no músculo e lesões do tecido conjuntivo, causando inflamação, que podem comprometer o desempenho esportivo (Larsen et al., 2017). Na presença da dor, ocorre um breve período de perda de desempenho conhecido como overreaching funcional (muito frequente no treinamento de alto rendimento). Entretanto, o overreaching funcional pode evoluir para um overtraining, quando o período de recuperação não é adequado e as alterações físicas e emocionais se tornam prolongadas, estando associadas a perda de desempenho por períodos maiores de tempo.

Nenhum atleta quer ou pode perder tempo ou rendimento! Para isso, acelerar a recuperação após um grande esforço físico é essencial para a continuidade e melhora do desempenho em qualquer esporte. Visando acelerar a recuperação após exercícios (recovery) e oferecer melhores condições fisiológicas para o desempenho dos atletas, a crioimersão sistêmica (imersão do corpo todo) é utilizada.

Figura 1: Uso da crioimersão por atleta de futebol, após treinamento.

A crioimersão tem sido realizada por décadas como estratégia de recuperação pós-exercício em uma variedade de esportes. A aplicação de frio diminui a dor, reduz o processo inflamatório e ajuda a recuperação muscular (Macedo et al, 2016). É a forma mais popular de recuperação nos esportes; porém, algumas considerações são muito importantes e devem ser observadas:

  • 1. O atleta deve ser submerso, no mínimo até as cristas iliacas, mas pode-se optar pela imersão ao nível do esterno ou até ombros;
    2. A temperatura da água para crioimersão deve ser controlada entre 11 até 15 graus celsius (Machado et al, 2016);
    3. E o tempo de duração deve estar entre 11 e 15 minutos.
    4. Quanto ao momento de iniciar a crioimersão, o ideal é que seja iniciada imediatamente após o exercício físico ou treinamento. A crioimersão pode ser utilizada em dias consecutivos sem causar problemas ao atleta, porém é melhor indicada em dias de treinos ou jogos onde o esforço é maior do que o costume.
    5. Uma unica aplicação de crioimersão, imediatamente após o esforço é suficiente. Os estudo nao apresentam diferenças entre uma ou mais aplicações no mesmo dia.Figura 2: Espaço adequado para realização de crioimersão, com equipamentos para filtragem e controle da temperatura da água.Figura 3: Atletas imersos até crista iliaca.Entretanto, os resultados de pesquisas que concretizariam a indicação da crioimersão ainda são controversos, e faltam evidências que realmente suportem cientificamente os seus benefícios. Em relação a analise subjetiva de dor e fadiga, Bleakley et al (2012), Williams et al (2011), Leeder et al. (2012), Machado et al (2015) afirmam que a crioimersão diminuiu a DMOT, mas Torres et al (2012) não tiveram os mesmos resultados. Williams et. al. (2011) destacam que a crioimersão imediatamente após exercício melhorou o desempenho no treino do dia seguinte. E, Roswell et al. (2009) afirmam que foi útil para reduzir a percepção de fadiga geral após jogos sucessivos.

Por outro lado, não foram encontradas melhoras ou pioras para a inflamação muscular (Hohenauer et al, 2015), controle postural ou equilíbrio (Tano et al. (2015) e recrutamento/contração muscular (Thain et al., 2015), após 24, 48 ou 72 horas da crioimersão. Mas, Baylei et al. (2007) encontraram que a contração dos músculos que flexionam o joelho (músculos isquiotibiais) ficou diminuida até 48 horas após a aplicação como demonstrado na tabela abaixo.

Benefícios comprovados Benefícios ainda não comprovados
Dor Diminuição da inflamação muscular
Fadiga Melhora do Controle postural/equilíbrio
Melhor Desempenho no dia seguinte Alteração do recrutamento/contração muscular

Assim, os atletas continuam a utilizar com frequencia a crioimersão, com base em seus bons efeitos subjetivos de melhora da dor e fadiga. Acreditamos que a escolha deste recurso de recovery deve ser realizadadeterminada entre todos os profissionais do esporte (fisioterapeutas, fisiologistas, técnicos, preparadores físicos, médicos, etc) e de comum acordo com o atleta, em função do período de treinamentos e competições, com objetivos claros e adequados.

AUTORAS
Christiane de Souza Guerino Macedo – Fisioterapeuta, Doutora em Reabilitação e Desempenho Funcional FMRP/USP, Especialista em Fisioterapia Esportiva/SONAFE, sócia SONAFE.
Fernanda Bortolo Pesenti – Fisioterapeuta, Mestre em Ciências da Reabilitação/UEL.
Vanessa Batista da Costa Santos – Fisioterapeuta, Mestre em Educação Física UEL/UEM.

REFERÊNCIAS
Bailey DM, Erith SJ, Griffin PJ, Dowson A, Brewer DS, Gant N. Influence of cold water immersion on indices of muscle damage following prolonged intermittent shuttle running. Journal of Sports Sciences 2007;25:1163-70.
Bleakley C, McDonough S, Gardner E, Baxter GD, Hopkins JT, Davison GW. Cold-water immersion (cryotherapy) for preventing and treating muscle soreness after exercise (Cochrane review) [with consumer summary]. Cochrane Database of Systematic Reviews 2012;Issue 2.
Cheung K, Hume PA, Maxwell L. Delayed onset muscle soreness. Treatment strategies and performance factors. Sports Med 2003; 33(2):145- 164.
Hohenauer E, Taeymans J, Baeyens J-P, Clarys P, Clijsen R. The effect of post-exercise cryotherapy on recovery characteristics: a systematic review and meta-analysis. PLoS ONE 2015 Sep;10(9):e0139028.
Larsen, Lars Henrik, Rogerio Pessoto Hirata, and Thomas Graven‐Nielsen. “Pain‐evoked trunk muscle activity changes during fatigue and DOMS.” European Journal of Pain 21.5 (2017): 907-917.
Leeder J, Gissane C, van Someren K. Cold water immersion and recovery from strenuous exercise: a meta-analysis. Br J Sports Med. 2012;46(4):233–40.
Macedo, CDSG., Vicente, RC, Cesário, MD, & Guirro, RRDJ. (2016). Cold-water immersion alters muscle recruitment and balance of basketball players during vertical jump landing. Journal of sports sciences, 34(4), 348-357.
Machado AF, Ferreira PH, Micheletti JK, de Almeida AC, Lemes IR, Vanderlei FM, Netto Junior J, Pastre CM. Can Water Temperature and Immersion Time Influence the Effect of Cold Water Immersion on Muscle Soreness? A Systematic Review and Meta-Analysis Sports Med (2016) 46:503–514 DOI 10.1007/s40279-015-0431-7
Rowsell GJ, Coutts AJ, Reaburn P, Hill-Haas S. Effects of cold-water immersion on physical performance between successive matches in high-performance junior male soccer players. Journal of Sports Sciences 2009;27:565-73.
Tano, SS; Fernandes, KBP; Moser, ADL; Oliveira, DAAP; Gil AWO; Oliveira RF. Effects of cold water immersion on variables of balance in healthy subjects with open and closed eyes. Fisioter. mov. [online]. 2015, vol.28, n.3 [cited 2016-08-24], pp.467-475.
Thain PK, Bleakley CM, Mitchell ACS. Muscle Reaction Time During a Simulated Lateral Ankle Sprain After Wet-Ice Application or Cold-Water Immersion. Journal of Athletic Training: July 2015, Vol. 50, No. 7, pp. 697-703.
Torres R, Ribeiro F, Alberto Duarte J, Cabri JMH. Evidence of the physiotherapeutic interventions used currently after exercise-induced muscle damage: systematic review and meta-analysis. Physical Therapy in Sport 2012 May;13(2):101-114. Williams NB, Landres G, Wallman K. Effect of immediate and delayed cold water immersion after a high intensity exercise session on subsequent run performance. J Sports Science Medicine. Dec 2011; 10(4): 665–670.

 

Fonte: Christiane Macedo, Fernanda Pesenti, Vanessa Santos – terça, 30 de maio de 2017
www.sonafe.org.br

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